O Relatório Mundial de Alzheimer 2024, divulgado pela Alzheimer’s Disease International (ADI) em parceria com a London School of Economics and Political Science (LSE), apresenta verdades duras que não podem ser ignoradas. A demência, que afeta mais de 55 milhões de pessoas no mundo, continua cercada por desinformação, preconceito e, muitas vezes, negligência.
O estudo revela que 80% das pessoas ainda acreditam, equivocadamente, que a demência é uma consequência natural do envelhecimento, ignorando que se trata de uma condição médica grave, como o Alzheimer. No Brasil, onde aproximadamente 2 milhões de pessoas vivem com demência, esse número pode triplicar até 2050. Diante desse aumento iminente, é necessário que a sociedade e as autoridades tomem medidas concretas para lidar com essa realidade.
A Federação Brasileira das Associações de Alzheimer (Febraz), alinhada ao seu manifesto pelos direitos das pessoas que vivem com demência, ressalta a importância de um diagnóstico em tempo oportuno, de acesso universal ao tratamento e de estratégias para enfrentar o estigma. A falta de conhecimento, como destaca o relatório, intensifica a exclusão social e aprofunda o sofrimento das pessoas que vivem com a doença, assim como de seus familiares que exercem o papel de cuidadores.
O relatório mostra que 88% das pessoas que vivem com demência informam sofrer algum tipo de discriminação, um aumento de 5% desde 2019. Esse preconceito resulta em isolamento para as famílias que convivem com demência. Como reforça o Manifesto pelos Direitos das Pessoas que Vivem com Demência, “a dignidade, a participação e a autonomia das pessoas que vivem com demência devem ser garantidas”. Isso só será possível se conseguirmos romper as barreiras impostas pelo estigma.
A Febraz vem combatendo incansavelmente: o isolamento e a invisibilidade das pessoas com demência e seus cuidadores. Precisamos de mais iniciativas que construam uma rede de apoio sólida e promovam uma sociedade mais inclusiva.
O relatório também traz dados positivos: a conscientização sobre a importância do estilo de vida saudável no combate à demência está crescendo. Mais de 58% das pessoas que participaram da pesquisa reconhecem que hábitos como alimentação equilibrada e a prática regular de exercícios físicos ajudam a reduzir o risco de desenvolver demência. Controlar fatores de risco modificáveis, como hipertensão e diabetes, pode prevenir até 45% dos casos.
Entretanto, como reforçado pelo manifesto da Febraz, essa conscientização deve ser acompanhada por políticas públicas que garantam o acesso à prevenção e ao diagnóstico em tempo oportuno. Não podemos falar em redução de riscos sem garantir que todos, independentemente da classe social ou da região onde vivem, tenham acesso a cuidados de saúde de qualidade.
Uma oportunidade de mudança
O relatório da ADI é um alerta claro e inadiável: mudanças são necessárias e urgentes. No Brasil, onde o número de casos de demência está projetado para crescer rapidamente nas próximas décadas, a mobilização da sociedade é imprescindível. Temos uma Política Nacional de Cuidado Integral às Pessoas com Doença de Alzheimer e outras Demências, definida pela Lei 14.878, sancionada em junho deste ano. No entanto, uma política só cumpre seu papel quando implementada de maneira efetiva. O desafio, agora, é transformar essa conquista legislativa em ações concretas que alcancem as pessoas que mais precisam.
A Febraz, como porta-voz das famílias que enfrentam a realidade da demência no Brasil, reafirma seu compromisso em lutar por políticas públicas que garantam dignidade, cuidados adequados e o apoio necessário. Não podemos aceitar que o cuidado com a demência seja relegado a segundo plano ou tratado como uma simples consequência do envelhecimento. São necessárias políticas específicas, estratégias de cuidado e, acima de tudo, respeito e dignidade.
Neste Setembro Lilás, temos uma oportunidade única de fortalecer o movimento de conscientização e de romper, de uma vez por todas, o estigma que ainda cerca a demência. Buscar informação, se engajar nas campanhas e apoiar as iniciativas das associações de Alzheimer são ações que podem transformar a realidade de milhões de brasileiras e brasileiros. A hora de agir é agora.